Entre os riscos de ser diferente e o horror de ser igual

Do outro lado do muro-Capítulo 3: A mãe é praticamente Deus

E nós estávamos discutindo a relação em pleno posto de gasolina. Mas eu sabia. Ela não era a culpada de nada disso e sim eu. Porque eu estava tão preocupada em fingir que era a pobre menina abandonada pelos pais, que não percebi que eu sentia falta de achar que minha mãe era Deus pra mim. Acho que me esqueci de quando era criança e tudo que a mãe diz ou faz é algo mágico.
Senti a garganta apertar de novo. Eu queria gritar alguma coisa, mas eu não sabia qual palavra usar.
_Senhora_ o frentista chamou pela segunda vez e minha mãe tirou os olhos de mim. Respirei tranqüila agora.
Minha mãe entregou o cartão de crédito a ele e eu me mantive em silêncio me lembrando de quando eu estava embarcando no avião para a Suíça aos dez anos. Tudo era tão assustador até minha mãe segurar minha mão e dizer que tudo ia ficar bem. E naquela época eu acreditei em cada palavra que ela disse.
Uma lágrima chegou a vir para os meus olhos mas eu me forcei a não chorar. Eu odeio parecer fraca na frente de qualquer um.
Minha mãe deu partida no carro e saiu do posto. Eu tinha que falar alguma coisa ou ia acabar explodindo.
_Mãe_ chamei.
_O que?_ a voz dela parecia meio trêmula.
_Lembra quando me levou no aeroporto?_ perguntei_ Quando eu tinha dez anos?
_A primeira viagem para a Suíça_ ela respondeu confirmando que lembrava.
_Naquela época, quando eu ainda acreditava em Deus_ comecei_ Eu rezei no avião. Sabe o que eu pedi?
_Não_ ela respondeu desconcentrando-se do transito e olhando para mim.
_Por favor que minha mãe não me esqueça._ respondi.
Um carro passou a menos de dez centímetros de nós. Minha mãe girou o volante para desviar o mais rápido possível e subiu com metade do carro na caçada. Parou e depois me encarou profundamente. Nem se importou se ela tinha ou não destruído alguma coisa. Eu não me lembro de estar tão desprotegida assim perto da minha mãe em anos.
_Sabe o que eu pedi?_ ela perguntou e eu fiz sinal negativo com a cabeça. Não tinha condições para falar_ Que minha filha não me esqueça.
Eu sabia que agora eu não podia segurar o choro então deixei as lágrimas caírem.
_Desculpe_ pedi quase que desesperadamente quando ela me puxou para perto dela.
_Tudo bem, tudo bem_ ela passou a mão na minha cabeça.
_Tudo bem dona?_ um policial apareceu na janela do carro_ À menina se machucou?
_Não_ minha mãe respondeu_ É que ela é um pouco sensível.
_É melhor a senhora desocupar a calçada._ ele disse saindo da janela.

6 Comments:

Mônica Costa said...

Um bom texto. Boas palavras em sintonia. Paranéns!

palavras ao vento said...

fala de Deus, da união entre mae e filha...fatos que acontecem...esta de parabens...

Marcus said...

Amor de mãe não tem igual!

GUSTAVO said...

VOCÊ TEM TALENTO FERNANDA, VAI EM FRENTE QUE SUA OPORTUNIDADE COM CERTEZA SERGIRÁ!

Rodrigo said...

Parabens pelo texto. Não desista da luta.

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Um cara said...

O texto não é cansativo o que cansa a vista, dependendo do monitor do leitor é as cores, geralmente letras pretas são melhores de ler que brancas. Taí a dica e continue!

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